Reconversão das funções do Aeroporto de Congonhas
Responsável: Ivan Trizi Amorim, 2° noturno
Resumo: O presente artigo traz uma breve análise histórica acerca do Aeroporto de Congonhas, aborda alguns de seus percalços e busca contribuir ao fornecer algumas soluções para a crise aérea que se instaurou no País, sendo o Aeroporto de Congonhas grande responsável por um efeito cascata generalizado, pois muitos dos vôos em território brasileiro passam por suas pistas para fazerem escalas e conexões. Pretende-se aqui reforçar a necessidade de sua segurança e contribuir com medidas que não adote nenhum dos caminhos extremos: nem o seu fechamento, nem a sua ampliação desmesurada.
O Aeroporto Internacional de Congonhas foi construído nos anos 1930 e passou por duas ampliações, uma nos anos 1950 e outra, nos anos 1980. Tinha a capacidade de receber seis milhões de pessoas anualmente. A partir do ano de 2000, com a entrada de companhias aéreas que cobram tarifas reduzidas (Gol, BRA, OceanAir), o número de passageiros passou de uma média de 5 milhões no ano de 1997 para mais de 18 milhões no ano de 2006. Até pelo menos julho de 2007, era o aeroporto mais movimentado do País: uma média de 18 milhões de passageiros por ano (comparando-se com a média de 15 milhões no Aeroporto de Cumbica) e uma média de 600 vôos por dia (comparando-se com a média de 430 em Cumbica).
Há tempos, desde o governo Franco Montoro, mais especificamente desde o ano de 1985, vinha-se discutindo a redução das atividades do Aeroporto de Congonhas, gradativamente, até a sua total desativação. Caberia ao aeroporto paulistano, apenas, os pousos e decolagens da aviação geral¹ e da Ponte Aérea Rio – São Paulo.
Passaram-se doze anos dessas discussões e muito se mudou: a já imponente cidade de São Paulo ampliou-se ainda mais e engoliu o aeroporto; o “lobby” das companhias aéreas e de outros interesses financeiros diversos prevaleceram sobre a segurança dos passageiros e da população residente em seu entorno; os acidentes ou incidentes ocorridos não foram tratados da maneira como deveriam; Congonhas passou a receber 18 milhões de passageiros anualmente que sofrem com os atrasos de vôos e a venda indiscriminada de passagens; a demanda aérea crescente foi apenas “privilegiada” com obras luxuosas no aeroporto esquecendo-se, porém, de investimentos em infra-estrutura; a mídia, o nosso quarto poder, talvez mais influenciou na pressão para acelerar-se o ritmo dos vôos do que para discutir alternativas para o caos instalado.
Ninguém, ainda, havia se importado com a extrema responsabilidade delegada aos profissionais controladores de vôo que já estavam submetidos a péssimas condições de trabalho: denunciavam, através de greves, os baixos salários, a inexistência de equipamentos necessários para gerenciar o tráfego aéreo tanto nos céus quanto nos aeroportos brasileiros, o sucateamento dos equipamentos já existentes e a enorme pressão que cada vez mais sofriam.
Assim, presenciamos o dezessete de julho do ano de dois mil e sete. O vôo 3054 que chegara de Porto Alegre, não conseguiu parar na pista do Aeroporto de Congonhas, atravessou uma das avenidas mais movimentadas da cidade de São Paulo, a avenida Washington Luís, e explodiu ao colidir com um prédio da própria companhia da aeronave, a TAM. Cento e noventa e nove vidas e o sofrimento de um sem-número de parentes e amigos! Mais uma tragédia aérea anunciada em céus brasileiros e que, apenas desse modo, forçou a reascender as discussões sobre a crise pela qual passa a nossa aviação.
Tendo em vista esse cenário, muitos radicalizam ao defender o fechamento do Aeroporto. No entanto, Congonhas possui enorme importância econômica para o País e, principalmente, para a cidade de São Paulo. Do mesmo modo, precisamos descartar o outro extremo, o de sua ampliação sem-fim: um estudo realizado pelo Instituto de Aviação Civil (IAC) previu que em seis anos o número de passageiros poderá chegar a mais de 28 milhões por ano. Para atender a essa demanda, segundo projeções do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), Congonhas precisaria ser ampliado mais 350% de sua capacidade atual.
Precisamos, sim, que o Ministério da Defesa, a Aeronáutica, a Infraero e a Anac tomem as devidas providências, cada uma de acordo com as suas atribuições, para que o Aeroporto possa operar dentro do limite de sua real capacidade e para que haja medidas que visem principalmente os usuários desse sistema de transporte.
No curto prazo, faz-se necessária a tomada das seguintes medidas: transferência de vôos para outros aeroportos paulistas como Guarulhos e Campinas, que possuem a capacidade imediata de atender 20% e 2%, respectivamente, das operações de Congonhas; proibir escalas e conexões, passando a funcionar apenas como terminal de operação direta; corrigir problemas com pistas planas e desgastadas responsáveis pelas derrapagens, principalmente em dias chuvosos; ampliar a pista de pousos e decolagens e ampliar a área de escape; estabelecer uma comunicação via satélite entre a torre e o piloto; construir uma torre de comando maior que retome a plena visibilidade dos controladores de vôo; desativar prédios que colocam em risco as aeronaves; fazer valer os instrumentos urbanísticos para respeitar a distância de segurança em seu entorno; garantir que os recursos arrecadados pela Infraero, através das empresas e dos passageiros, sejam realmente revertidos em melhorias para o setor aéreo.
No médio e longo prazos, faz-se necessários investimentos de maior impacto que sejam capazes de atender as necessidades presentes e as demandas crescentes futuras. Além do mais, um País que deseja desenvolver-se e estar entre os países de “primeiro mundo” deve investir em infra-estrutura. Assim, outras alternativas que contribuirão também para desafogar o tráfego de Congonhas são: a ampliação de outros aeroportos de municípios próximos à cidade de São Paulo; a implementação de um trem de alta velocidade que possa ser interligado com outros meios de transporte e que ligue a capital aos aeroportos de municípios vizinhos; a recuperação, ampliação e utilização de ferrovias e hidrovias e a interligação desses a outros meios de transporte; a construção de um novo aeroporto na cidade de São Paulo, que esteja localizado na Zona Leste, com o objetivo de também estimular o desenvolvimento dessa região.
Vista de um vôo aproximando-se do Aeroporto de Congonhas: o crescimento desordenado da cidade "engoliu" o Aeroporto
¹ Consultar, para aviação geral: http://abag.org.br/abagq.htm
Para imagem, consultar: http://www.sampaonline.com.br/postais/avwashingtonluis2006out22congonhas.jpg
Fonte de dados: Revista Veja, 21 de fevereiro de 2007.
Veja outras propostas sobre o Aeroporto de Congonhas
Comments (1)
Anonymous said
at 9:25 pm on Dec 18, 2007
A questão da capacidade máxima de um aeroporto difere-se da maioria das políticas públicas pelo fato de que a falta de um padrão mínimo de qualidade, que mesmo sendo mínimo é altamente custoso, pode gerar a pior das consequências: a perda de vidas. As suas atividades DEVEM ser executadas nos parões de segurança estabelecidos. Se a demanda exceder a oferta do serviço, a criação de novos aparelhos é a única saída para atende-la.
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